As palavras faltavam-lhe. Sentiu-se pequeno. Desfasado. Distante. Tentou de novo. A raiva apoderou-se, a respiração acelerou, para pouco depois o desalento tomar conta da situação.
Ter trocado a caneta pelo computador, já nem lhe permitia rasgar o papel e atirá-lo para o pequeno caixote de lixo vermelho que tinha à direita da secretária.
Novo misto de raiva e impotência. Saltou da cadeira. Na cozinha abriu o frigorífico, para não lhe apetecer nada.
Nada no estômago, nada de palavras, nada de jeito na televisão.
Também não lhe apetecia sair.
Percorreu toda a casa com aquela inquisição/hesitação de quem quer algo, mas não sabe bem o quê… talvez por isso se tenha lembrado daquele anúncio dos bombons.
Aqueles que tinha guardados na despensa, aqueles que a tia-avó lhe tinha oferecido no Natal juntamente com o tradicional par de meias pretas.
À sétima vez que passou pelo escritório culpou o branco das paredes pela falta de inspiração e fez um apontamento mental “amanhã, amanhã vou pintar a porcaria da parede de laranja… não, vermelho para combinar com o caixote”.
Sentou-se novamente na cadeira e afagou a secretária. Mais uma tentativa. Escreveu. Apagou. Escreveu, apagou… fechou os olhos por cinco minutos e trinta e três segundos.
Desligou o computador. No documento Word apenas ficaram duas palavras “onde estás?”.
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2 comentários:
- Aqui!!
(já dizia alguém na música de Caetano Veloso ;)) Gostei do texto.
Shhh
Bem-vinda novamente.
Ainda bem que gostaste do texto.
:)
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