Sentou-se junto à janela, quase encostando a cabeça ao vidro. Ajeitou as costas, cruzou as pernas. Os comboios sempre tinham exercido um fascínio especial sobre si, como se de um momento para o outro entrasse num mundo melhor, mais calmo, mais real.
Naquele dia, como em tantos outros não era tanto o destino que interessava, mas o percurso, a viagem. Essa era também uma das suas manias. Partir sem destino, fugindo dos pequenos tormentos do dia-a-dia, fazendo as pazes com a vida, esperando encontrar coisas e momentos para guardar, guardar cuidadosamente na alma.
A cadência da viagem quase lhe adormecia os sentidos, mas de quando a quando os tons de verde, as nuvens em carreiros surpreendiam pelos seus tons vibrantes, resgatavam-lhe a energia, e uma estranha paz de espírito instalava-se de tal modo que até os seus músculos, quase sempre tão tensos, cediam.
O livro que tinha trazido permaneceu intocado durante toda a viagem. Ouvir os pequenos ruídos do comboio, respirar as paisagens era tudo o que queria. A ausência de pensamentos, era deliciosa.
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