agosto 21, 2008

a mãe

Não pode ser tudo mau, tudo escuro. Há mais lá fora e tu sabes isso.
Por isso deixa-te de lamúrias e gemidos, e sai para a rua.
Estica as pernas, deixa o sol abraçar-te, reage.

Não te seduzas com melancolias, nem sucumbas a músicas que deixam a tristeza entrar. Não te limites a quatro paredes, não te tornes pequeno, desinteressante, deslavado.

Às vezes é mais poético ser-se cavaleiro andante e lutar com moinhos que não existem, mas a vida não é isso. É dia-a-dia de insípidos acontecimentos e tarefas desbotadas. É isso tudo com segundos de encanto que de tão avassaladores preenchem minutos e horas de ti.

Por isso, salta da cama, lava-te e veste qualquer coisa com cor para variar. Que aqui vais perder a oportunidade dos teus deslumbramentos e a vida fica perdido à partida, sem direito a resgatares o tempo que já passou.

Ela abriu as cortinas de repente e puxou os estores de rompante. Olhou para ele como se ainda tivesse 5 anos e tivesse feito uma asneira terrível, sem direito a ser desculpado.

Ele percebeu que aquilo não era um pedido, era uma ordem e sentiu que tinha acabado de ter um dos momentos que de ela falava. Gozou o reencontro temporizado com a sua mãe e não se inibiu de a abraçar.

Passado um pouco, ela ouvi o bater da porta acompanhado com um "não sei a que horas volto" e quando espreitou pela janela viu os contornos do seu filho em tons de azul e branco " muito melhor que o preto" pensou sentindo um alívio profundo.

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