agosto 21, 2008

discursos racionais

"Há silêncios que despertam palavras, desenterram medos de estimação, dores fantasmas pequeninas de passados que deixaram marca. Silêncios que nos deixam não se sabe bem onde; a meio caminho de avançar, a meio passo de ficar, de nos aconchegarmos nos muros e cobertores que construímos"

Olhou para o verde que se impunha lá fora regressando quase de imediato ao computador. Tudo na mesma, nem mais, nem menos leveza de espírito. O desassossego mantinha-se alojado no lado direito do que suponha ser o seu coração e parecia querer trepar-lhe pela garanta.

Já tinha aprendido a calar o resquício de alma que lhe sobrava com frases-feitas que repetia a si mesmo "a vida é mesmo assim", "não temos tempo para isso", "Concentra-te no que tens de fazer!"... "vá deixa-te de merdas".

Mas hoje os discursos racionais falhavam-lhe; escrever como se as suas dores fossem as de outros também não lhe anestesiava a inquietação e avizinhava-se o círculo desgastante de prestar contas a si mesmo.

De explicar o porquê de ser incompleto, porque se tornara imóvel na sua coragem de amar, porque se habituara a isso, ao desenxabido, à alma dormente.

Não se apercebendo que a noite caíra insistiu na escrita "E depois há os quebrares de silêncio, que por uma curiosidade macabra tão característica da vida, têm por vezes o mesmo efeito. O recordarmos o que queremos ter e o que podemos sofrer sem sequer lá chegar".

E depois as palavras que ficaram apenas em si "e o teu sorriso, o teu olhar que não me sai da cabeça".

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