"Há silêncios que despertam palavras, desenterram medos de estimação, dores fantasmas pequeninas de passados que deixaram marca. Silêncios que nos deixam não se sabe bem onde; a meio caminho de avançar, a meio passo de ficar, de nos aconchegarmos nos muros e cobertores que construímos"
Olhou para o verde que se impunha lá fora regressando quase de imediato ao computador. Tudo na mesma, nem mais, nem menos leveza de espírito. O desassossego mantinha-se alojado no lado direito do que suponha ser o seu coração e parecia querer trepar-lhe pela garanta.
Já tinha aprendido a calar o resquício de alma que lhe sobrava com frases-feitas que repetia a si mesmo "a vida é mesmo assim", "não temos tempo para isso", "Concentra-te no que tens de fazer!"... "vá deixa-te de merdas".
Mas hoje os discursos racionais falhavam-lhe; escrever como se as suas dores fossem as de outros também não lhe anestesiava a inquietação e avizinhava-se o círculo desgastante de prestar contas a si mesmo.
De explicar o porquê de ser incompleto, porque se tornara imóvel na sua coragem de amar, porque se habituara a isso, ao desenxabido, à alma dormente.
Não se apercebendo que a noite caíra insistiu na escrita "E depois há os quebrares de silêncio, que por uma curiosidade macabra tão característica da vida, têm por vezes o mesmo efeito. O recordarmos o que queremos ter e o que podemos sofrer sem sequer lá chegar".
E depois as palavras que ficaram apenas em si "e o teu sorriso, o teu olhar que não me sai da cabeça".
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