Não pode ser tudo mau, tudo escuro. Há mais lá fora e tu sabes isso.
Por isso deixa-te de lamúrias e gemidos, e sai para a rua.
Estica as pernas, deixa o sol abraçar-te, reage.
Não te seduzas com melancolias, nem sucumbas a músicas que deixam a tristeza entrar. Não te limites a quatro paredes, não te tornes pequeno, desinteressante, deslavado.
Às vezes é mais poético ser-se cavaleiro andante e lutar com moinhos que não existem, mas a vida não é isso. É dia-a-dia de insípidos acontecimentos e tarefas desbotadas. É isso tudo com segundos de encanto que de tão avassaladores preenchem minutos e horas de ti.
Por isso, salta da cama, lava-te e veste qualquer coisa com cor para variar. Que aqui vais perder a oportunidade dos teus deslumbramentos e a vida fica perdido à partida, sem direito a resgatares o tempo que já passou.
Ela abriu as cortinas de repente e puxou os estores de rompante. Olhou para ele como se ainda tivesse 5 anos e tivesse feito uma asneira terrível, sem direito a ser desculpado.
Ele percebeu que aquilo não era um pedido, era uma ordem e sentiu que tinha acabado de ter um dos momentos que de ela falava. Gozou o reencontro temporizado com a sua mãe e não se inibiu de a abraçar.
Passado um pouco, ela ouvi o bater da porta acompanhado com um "não sei a que horas volto" e quando espreitou pela janela viu os contornos do seu filho em tons de azul e branco " muito melhor que o preto" pensou sentindo um alívio profundo.
agosto 21, 2008
discursos racionais
"Há silêncios que despertam palavras, desenterram medos de estimação, dores fantasmas pequeninas de passados que deixaram marca. Silêncios que nos deixam não se sabe bem onde; a meio caminho de avançar, a meio passo de ficar, de nos aconchegarmos nos muros e cobertores que construímos"
Olhou para o verde que se impunha lá fora regressando quase de imediato ao computador. Tudo na mesma, nem mais, nem menos leveza de espírito. O desassossego mantinha-se alojado no lado direito do que suponha ser o seu coração e parecia querer trepar-lhe pela garanta.
Já tinha aprendido a calar o resquício de alma que lhe sobrava com frases-feitas que repetia a si mesmo "a vida é mesmo assim", "não temos tempo para isso", "Concentra-te no que tens de fazer!"... "vá deixa-te de merdas".
Mas hoje os discursos racionais falhavam-lhe; escrever como se as suas dores fossem as de outros também não lhe anestesiava a inquietação e avizinhava-se o círculo desgastante de prestar contas a si mesmo.
De explicar o porquê de ser incompleto, porque se tornara imóvel na sua coragem de amar, porque se habituara a isso, ao desenxabido, à alma dormente.
Não se apercebendo que a noite caíra insistiu na escrita "E depois há os quebrares de silêncio, que por uma curiosidade macabra tão característica da vida, têm por vezes o mesmo efeito. O recordarmos o que queremos ter e o que podemos sofrer sem sequer lá chegar".
E depois as palavras que ficaram apenas em si "e o teu sorriso, o teu olhar que não me sai da cabeça".
Olhou para o verde que se impunha lá fora regressando quase de imediato ao computador. Tudo na mesma, nem mais, nem menos leveza de espírito. O desassossego mantinha-se alojado no lado direito do que suponha ser o seu coração e parecia querer trepar-lhe pela garanta.
Já tinha aprendido a calar o resquício de alma que lhe sobrava com frases-feitas que repetia a si mesmo "a vida é mesmo assim", "não temos tempo para isso", "Concentra-te no que tens de fazer!"... "vá deixa-te de merdas".
Mas hoje os discursos racionais falhavam-lhe; escrever como se as suas dores fossem as de outros também não lhe anestesiava a inquietação e avizinhava-se o círculo desgastante de prestar contas a si mesmo.
De explicar o porquê de ser incompleto, porque se tornara imóvel na sua coragem de amar, porque se habituara a isso, ao desenxabido, à alma dormente.
Não se apercebendo que a noite caíra insistiu na escrita "E depois há os quebrares de silêncio, que por uma curiosidade macabra tão característica da vida, têm por vezes o mesmo efeito. O recordarmos o que queremos ter e o que podemos sofrer sem sequer lá chegar".
E depois as palavras que ficaram apenas em si "e o teu sorriso, o teu olhar que não me sai da cabeça".
agosto 17, 2008
doorstep
He stood there at the doorstep looking aimlessly absorbing the pass thinking what would have been he had just bought the ticket and returned. What if? Then he remembered her, the profound blue of her eyes and how the wind had a special way of suavely touching her skin as if she was special as if she was beyond human. The sun hit his face. He remained there, standing on his feet with his knees slightly bend. The threes, the mountain breeze were indifferent to him. He was somewhere frozen between past and present.
agosto 01, 2008
o futuro já não mora aqui
Às vezes penso em ti e fica-me um travo amargo na alma. Preciso de sacudir a cabeça, lembrar-me que o passado é o passado e que nós nem chegámos a ser. A maior parte das vezes isso é suficiente. A maior parte das vezes não passas de um momento. Um momento na minha vida onde a possibilidade do amanhã me enterneceu e no entreabrir da porta me pareceu ver contornos fugazes de uma vida comum.
Nada de mais, porque o encanto da vida que nem estivemos perto de ter, apenas se materializaria se tivéssemos sido. E ainda assim, de vez em quando o meu pensamento leva-me a ti, e sacudo a cabeça para me lembrar que o futuro já não mora aqui.
Nada de mais, porque o encanto da vida que nem estivemos perto de ter, apenas se materializaria se tivéssemos sido. E ainda assim, de vez em quando o meu pensamento leva-me a ti, e sacudo a cabeça para me lembrar que o futuro já não mora aqui.
Subscrever:
Mensagens (Atom)