fevereiro 22, 2007

o dia

Era dia de solidão. De janelas fechadas, trancas à porta. Era dia de silêncio.

Nada poderia ser dito, nada valeria murmurar, nada mudaria o que quer que seja... O mundo tornava-se objecto pesado, que os braços não suportavam, nem pretendiam suportar.

A densidade da vida consumia-lhe o ar, e o fôlego de reagir era inútil, entorpecido, quase extinto.

Tudo era de mais. Tudo esmagava. E aquele, era um desses dias em que a vontade de viver se aninha num canto da alma e reconhecendo o precipício, se mantém estática e congelada à espera do amanhã.

Não havia choros, nem gritos, nem telefonemas. Nem cartas. Não havia colo, nem abraços, nem ladainhas. Não havia palavras.

O desespero não tinha lugar, apenas a impotência.

Este era o dia em que os outros ficavam do outro lado e apenas reinava o vazio.

Era o dia em que se esperava o amanhã, não por ser diferente de ontem, mas por trazer de novo a força.

3 comentários:

viveremsegredo disse...

vazio não estava, existiam os pensamentos ordenados ou desordenados, pensamentos do que era e do queria que fosse... vazio não estava na certa...

João disse...

Espero que o dia de hoje tenha amanhecido mais azul e menos cinzento. Força!

AR disse...

Viver em segredo,

Mais uma vez certa. O vazio não era o vazio de não haver nada, mas sim o de o momento se encontrar suspenso.


João,

Está tudo bem. O texto surgiu de estado de espírito meio estranho, mas bastante mais leve do que o que está no texto.

:)

Entretanto o dia (que não foi fácil) já passou e o descanso está quase a chegar.

Obrigada pela preocupação e pela visita.