Sentou-se junto à janela, quase encostando a cabeça ao vidro. Ajeitou as costas, cruzou as pernas. Os comboios sempre tinham exercido um fascínio especial sobre si, como se de um momento para o outro entrasse num mundo melhor, mais calmo, mais real.
Naquele dia, como em tantos outros não era tanto o destino que interessava, mas o percurso, a viagem. Essa era também uma das suas manias. Partir sem destino, fugindo dos pequenos tormentos do dia-a-dia, fazendo as pazes com a vida, esperando encontrar coisas e momentos para guardar, guardar cuidadosamente na alma.
A cadência da viagem quase lhe adormecia os sentidos, mas de quando a quando os tons de verde, as nuvens em carreiros surpreendiam pelos seus tons vibrantes, resgatavam-lhe a energia, e uma estranha paz de espírito instalava-se de tal modo que até os seus músculos, quase sempre tão tensos, cediam.
O livro que tinha trazido permaneceu intocado durante toda a viagem. Ouvir os pequenos ruídos do comboio, respirar as paisagens era tudo o que queria. A ausência de pensamentos, era deliciosa.
março 25, 2009
março 12, 2009
angústia
Dor lambida, angustiante. Enrolada ao pescoço, esmagando, apertando. Dando lugar à inquietude, tapando a luz. Desassossego. Vontade moribunda. Um sem número de nadas que sufocam. Coisas que nunca vou ser. Amor que não existe. Quero ficar aqui e deixar os meses passarem. Esperar que esta prisão acabe. Contentar-me com o que sou.
março 07, 2009
devagarinho
Os teus olhos permanecem na minha memória. Os teus lábios.
Imagino que estás aqui e repouso no contorno dos teus ombros.
Deixo-me estar. Respiro devagarinho. Tenho medo que o momento acabe, que desapareças. Que o sonho acabe.
Imagino que estás aqui e repouso no contorno dos teus ombros.
Deixo-me estar. Respiro devagarinho. Tenho medo que o momento acabe, que desapareças. Que o sonho acabe.
março 01, 2009
passo a passo
Coisa nenhuma, destino esbatido. Passos e coisas. Pessoas. Caminho que se afasta, alma que teima em seguir. Corrigindo desvios maiores ou menores. Ganhando de novo o rumo que se extraviou. Permanecendo. Turbilhão de quereres, emaranhados em dores renovadas a cada dia, batalhas minúsculas que ganham pelo cansaço. E a vontade que não quebra, que mansa se eleva. Insistindo. Passo a passo. Ganhando experiência à vida. Descobrindo no resistir.
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