julho 31, 2013
Prenúncio de amor
Se pudesse repousar em ti, se soubesse que serias casulo, cobertor, canção de embalar. Se soubesse que as minhas palavras teriam morada em ti, dançariam perdidas em melodias suaves, acariciando a tua pele, a minha. Se soubesse que os talvez que não quero eram ralos, diminutos. Se as quase certezas fossem apenas fantasmas que habitam na alma de quem já tem anos, de quem tem marcas. Se a tua boca fosse doce, e o nosso abraço profundo de conteúdo, de partilha. Se as nossas mãos, dadas, fossem representação de algo uno, se descobrir quem és de facto fosse mais e não menos. Se a tua descoberta me alongasse, me nutrisse, me tornasse melhor. Se em nós deixássemos que nascesse o amor e a vida ficasse do lado de lá.
fevereiro 27, 2013
Espero que me oiças, que me oiças de verdade. Que te apercebas de como é importante ajudares-me. O quão premente é a necessidade de direção, de comunhão. Espero que o teu abraço me abrace abafando o menos bom da vida, tirando-lhe relevância. Espero que percebas o quanto preciso de ti, o quanto preciso de luz.
abril 28, 2012
É esta coisa de voltar sempre ao mesmo sítio que me chateia disse ela entre dois goles de café instantâneo a fumegar numa chávena azul petróleo. Esticou uma das pernas no sofá e acomodou-se ligeiramente. Mais um gole de café. Olhei para ela e apercebi-me que trazia mais rugas na alma que na cara. De certa forma sentia-me próximo dela, muito próximo. Também esta sensação de regressar ao mesmo estado de espírito, à casa de partida me era familiar e cansativa: diferentes contornos, a mesma merda! Sempre gostei da nossa forma desprendida de nos darmos: às vezes falamos, damos nome às coisas, partilhamos em detalhe. Outras partilhamos em silêncio, cada um com a sua página de livro, usufruímos em conjunto de uma paisagem, de um pormenor, de um passeio. Hoje era um misto; primeiro o desabafo e a constatação que nada havia a fazer (a não ser anos de uma possível terapia, sem resultados garantidos), depois um ameno convívio de amigos feito de pequenos nadas com goles de café à mistura e duas chávenas azul petróleo.
dezembro 20, 2011
para lá de mim
Silêncio calado, colado por dentro e por fora. Fundido na profundidade de que sou, das minhas células. Omnipresente, omnipotente. Para cá de mim, para lá dos outros. Silêncio cheio, de contornos, de volume, de palavras suspensas na ausência de som.
fevereiro 27, 2011
indissociável
Não me conjugo no talvez, nem no assim-assim. Não sou compromisso, intermédio, mais ou menos. Sei os meus contornos, o que sou. Afago as minhas falhas por serem o reverso do bom de mim. Venho por atacado, conjunto indissociável, projecto chave-na-mão. Algures em mim há penas de fénix e sementes de futuro - renasço, renovo-me, aprendo, divago, corrijo.
agosto 08, 2010
clarividência
Sem cor-de-rosa, ou contos de fadas. Para lá dos floreados, dos "talvez", e dos "ses". A verdade nua e crua, consciência a ferro e fogo: clarividência penetrante, libertadora. Para trás a culpa, as incertezas, os outros.
julho 18, 2010
perspectiva
Ver as coisas de fora dar-lhe-ia outra perspectiva, dar-lhe-ia isenção. Mas estava demasiado envolvido, amarrado na história. E a exactidão dos seus sentimentos mostrava-se inatingível, inalcançável.
março 05, 2010
na tua música
Na tua música respiro, dissolvo-me nos sons, que têm mais de belo que de triste, mergulho sem noção dos meus limites, vou mais, e mais além. Alcanço serenidade, num segundo que se renova a cada momento. Como se partilhasses uma história impossível de ser contada em palavras, como se eu pudesse alcançar tudo o que me queres dizer. Dádiva singela de paz. Afeiçoo-me a cada nota, como se de beijos se tratassem. Não quero sair deste mar protector que me envolve. Reconcilio-me comigo mesmo, com os outros, a leveza invade-me. Abraço de ar. Não me canso de ouvir, não me canso de revelar, que na tua música encontro paz.
diferença
Quando falarmos já não vai fazer sentido, já não vai fazer diferença. Tudo tem um tempo, e os atrasos sucessivos às vezes pagam-se caro, deitam a perder amizades. Não te tenho raiva, nem estamos iminentemente por um fio. Nem a tua ausência despreocupada me atormenta especialmente. Mas não posso sinceramente dizer que posso contar contigo. Não realmente, não quando parece de facto importar. Não grande parte das vezes.
novembro 13, 2009
sorriso solto
Desligou o computador com um sorriso solto. Quase não acreditava, finalmente tinha pensado em si primeiro, não na logística ou na saudade dos outros. Cem por cento em si. Num click o instinto retraído durante anos, tinha ganhado voz, calado as culpas prematuras, voado em direcção a um país que sempre quis conhecer.
Talvez fosse a promoção da agência de viagem num timing tão perfeito que quase parecia intervenção cósmica. Talvez fosse a fome de desaparecer durante uns dias.
Talvez fosse apenas o destino, ou a vida a dar-lhe tréguas.
Talvez fosse a promoção da agência de viagem num timing tão perfeito que quase parecia intervenção cósmica. Talvez fosse a fome de desaparecer durante uns dias.
Talvez fosse apenas o destino, ou a vida a dar-lhe tréguas.
ao virar de mim
Escondem-se oceanos, ao virar de mim.
E silêncios que oscilam ao sabor das marés-vivas.
Tomo corpo nas ondas, transbordo no seu compasso.
Não tenho meio, princípio, nem fim.
Permaneço simplesmente num mistério incompleto de azul esverdeado.
E silêncios que oscilam ao sabor das marés-vivas.
Tomo corpo nas ondas, transbordo no seu compasso.
Não tenho meio, princípio, nem fim.
Permaneço simplesmente num mistério incompleto de azul esverdeado.
agosto 16, 2009
sem bagagens
Desde novo que sabia, que as pessoas que nos devem proteger nem sempre nos protegem. Pelo contrário, às vezes, são elas que nos fazem mal, de uma forma propositadamente consciente, como escape para as sua próprias misérias interiores, para as suas inseguranças. Lidar com o amor incondicional e a raiva desmedida que sentia, era algo que fazia há muito tempo, e de forma quase descontraída, mas havia dias, em que o estranho equilíbrio a que se habituara não era alcançado, dias em que lhe apetecia fechar a porta para sempre, cortar contacto, ser apenas ele, sem bagagens, nem raízes.
julho 21, 2009
livro
Nas páginas de um livro, sentia-se em paz, mergulhava destemido, repousava no silêncio preenchido das palavras que lia, nas imagens que desenhava.
Entrava na vida de seres imaginados, que lhe pareciam reais, e nessa altura as suas ansiedades ficavam anestesiadas, adormecendo um pouco mais ao virar de cada página.
Era como um observador oculto, espreitando em surdina, adivinhando pensamentos e palavras, ansiando pelo acalmar da tormenta, pela descoberta de novas oportunidades.
Sim, um livro era um amigo valioso, que lhe permitia viajar, descansar de si próprio, reflectir sobre outras vidas que não a sua.
Entrava na vida de seres imaginados, que lhe pareciam reais, e nessa altura as suas ansiedades ficavam anestesiadas, adormecendo um pouco mais ao virar de cada página.
Era como um observador oculto, espreitando em surdina, adivinhando pensamentos e palavras, ansiando pelo acalmar da tormenta, pela descoberta de novas oportunidades.
Sim, um livro era um amigo valioso, que lhe permitia viajar, descansar de si próprio, reflectir sobre outras vidas que não a sua.
maio 31, 2009
anymore
You never seem to be here. And I, I have just run out of hope. It is like we keep on dancing, but there is no music anymore. As if our bodies were moving, because they have to, because they remember how. And I, well, the only thing I know for sure is that there is more than this.
maio 23, 2009
déjà vu
Às vezes há necessidade de tomar decisões, mesmo que aquilo que esperávamos que acontecesse, ou pudesse acontecer, deixe de ser tão certo como pensávamos. Mesmo que a vida teime em trocar-nos as voltas, nos negue alegria, não haja esperança.
No final das contas, e apesar dos cacos, das cicatrizes de dores recentes ou antigas, há que pronunciar o passado no passado. Mesmo que o futuro se assemelhe a um estranho déjà vu.
No final das contas, e apesar dos cacos, das cicatrizes de dores recentes ou antigas, há que pronunciar o passado no passado. Mesmo que o futuro se assemelhe a um estranho déjà vu.
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